domingo, 22 de novembro de 2015

Resenha - Boyhood


Demorei um pouco para assistir Boyhood, mas já imaginava que seria um ótimo filme - pelo que já havia lido -, apesar de ter ouvido algumas críticas ruins de quem assistiu.

Achei o filme FANTÁSTICO por vários motivos (inclusive técnicos), mas principalmente pelo poder da sua simplicidade - talvez até o mesmo motivo pelo qual muitos não gostaram. E por aí já começo, com o que me chamou atenção a respeito dessas opiniões divergentes: Será que não temos perdido a sensibilidade pelo que é simples? Quer dizer, muitos não gostaram porque acharam o filme 'sem graça', porque não há 'nada demais', etc. E por que deveria ter? A vida é o que é, diferente e igual para cada um. Suspenses, comédias, dramas e terrores... Mas continua sendo vida. E assim também é mostrado no filme. Enxerga quem sabe apreciar a verdade contida na simplicidade.

Como exemplo, olhemos para o costume que temos de complicar a vida como uma espécie de fuga da mesmice. Geralmente desejamos o que chama atenção aos olhos, o que instiga o prazer, o que nos leva a sensações de êxtase. Porém, a vida em essência não é nada disso. A vida é um sopro. Um sopro aos pulmões; um sopro de brisa em nosso rosto; um sopro no tempo.

- E quanto tempo não perdemos almejando espetáculos que atraiam nossos olhos, enquanto o verdadeiro show está acontecendo aqui mesmo, dentro de nós e à nossa volta? -

Essa é a verdadeira reflexão que o filme me trouxe. O interessante é que o decorrer do tempo da vida de Mason (protagonista) não é marcado como vemos em outros filmes, mas acontece sem percebermos, como é na vida real. Em uma cena o personagem está em seu quarto, com treze anos de idade, e daí o dia amanhece e ele já tem quatorze e está indo para o seu primeiro dia no colégio novo. Sutilmente. Assim como, muitas vezes, olhamos para trás e nos perguntamos como já se passaram dez anos desde a 'época tal'.

Talvez o que o diretor queira nos lembrar é que existe uma vida acontecendo. Enquanto os altos e baixos nos ocorrem; enquanto as lágrimas e os sorrisos nos moldam; enquanto as escolhas nos fazem crescer, mesmo que retrocedendo algumas vezes... A vida está acontecendo. A brisa está passando. O sopro está nos levando onde deseja - e onde almejamos no mais profundo.

Em entrevista, o diretor Richard Linklater disse: "Eu queria mostrar os momentos de amadurecimento que vemos nos filmes, mas numa produção só. Queria capturar como lembramos da vida, como o tempo passa. Não queria uma história dramática. Às vezes há momentos dramáticos no filme, como acontece em nossas vidas, mas não é assim na maior parte do tempo. Tentamos ser o mais próximos possível da realidade." 

E, na minha humilde opinião - de quem está aprendendo a olhar a arte com olhos que contemplam a vida, e vice versa - o diretor Linklater teve êxito. É, de fato, um filme brilhante que vale a pena ser assistido, principalmente por nos causar reflexões e sensações saudosas como se estivéssemos vendo um álbum de fotografias.

Para concluir, quero deixar uma citação de Charles Dickens (de seu livro Grandes Esperanças) que se mistura ao assunto abordado nessa resenha e à proposta do filme em questão, lembrando-nos que a vida se trata apenas de um dia, e só.

"Foi um dia memorável, pois operou grandes mudanças em mim. Mas isso se dá com qualquer vida. Imagine um dia especial na sua vida e pense como teria sido seu percurso sem ele. Faça uma pausa, você que está lendo, e pense na grande corrente de ferro, de ouro, de espinhos ou flores que jamais o teria prendido não fosse o encadeamento do primeiro elo em um dia memorável."





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