domingo, 22 de novembro de 2015

Resenha - Boyhood


Demorei um pouco para assistir Boyhood, mas já imaginava que seria um ótimo filme - pelo que já havia lido -, apesar de ter ouvido algumas críticas ruins de quem assistiu.

Achei o filme FANTÁSTICO por vários motivos (inclusive técnicos), mas principalmente pelo poder da sua simplicidade - talvez até o mesmo motivo pelo qual muitos não gostaram. E por aí já começo, com o que me chamou atenção a respeito dessas opiniões divergentes: Será que não temos perdido a sensibilidade pelo que é simples? Quer dizer, muitos não gostaram porque acharam o filme 'sem graça', porque não há 'nada demais', etc. E por que deveria ter? A vida é o que é, diferente e igual para cada um. Suspenses, comédias, dramas e terrores... Mas continua sendo vida. E assim também é mostrado no filme. Enxerga quem sabe apreciar a verdade contida na simplicidade.

Como exemplo, olhemos para o costume que temos de complicar a vida como uma espécie de fuga da mesmice. Geralmente desejamos o que chama atenção aos olhos, o que instiga o prazer, o que nos leva a sensações de êxtase. Porém, a vida em essência não é nada disso. A vida é um sopro. Um sopro aos pulmões; um sopro de brisa em nosso rosto; um sopro no tempo.

- E quanto tempo não perdemos almejando espetáculos que atraiam nossos olhos, enquanto o verdadeiro show está acontecendo aqui mesmo, dentro de nós e à nossa volta? -

Essa é a verdadeira reflexão que o filme me trouxe. O interessante é que o decorrer do tempo da vida de Mason (protagonista) não é marcado como vemos em outros filmes, mas acontece sem percebermos, como é na vida real. Em uma cena o personagem está em seu quarto, com treze anos de idade, e daí o dia amanhece e ele já tem quatorze e está indo para o seu primeiro dia no colégio novo. Sutilmente. Assim como, muitas vezes, olhamos para trás e nos perguntamos como já se passaram dez anos desde a 'época tal'.

Talvez o que o diretor queira nos lembrar é que existe uma vida acontecendo. Enquanto os altos e baixos nos ocorrem; enquanto as lágrimas e os sorrisos nos moldam; enquanto as escolhas nos fazem crescer, mesmo que retrocedendo algumas vezes... A vida está acontecendo. A brisa está passando. O sopro está nos levando onde deseja - e onde almejamos no mais profundo.

Em entrevista, o diretor Richard Linklater disse: "Eu queria mostrar os momentos de amadurecimento que vemos nos filmes, mas numa produção só. Queria capturar como lembramos da vida, como o tempo passa. Não queria uma história dramática. Às vezes há momentos dramáticos no filme, como acontece em nossas vidas, mas não é assim na maior parte do tempo. Tentamos ser o mais próximos possível da realidade." 

E, na minha humilde opinião - de quem está aprendendo a olhar a arte com olhos que contemplam a vida, e vice versa - o diretor Linklater teve êxito. É, de fato, um filme brilhante que vale a pena ser assistido, principalmente por nos causar reflexões e sensações saudosas como se estivéssemos vendo um álbum de fotografias.

Para concluir, quero deixar uma citação de Charles Dickens (de seu livro Grandes Esperanças) que se mistura ao assunto abordado nessa resenha e à proposta do filme em questão, lembrando-nos que a vida se trata apenas de um dia, e só.

"Foi um dia memorável, pois operou grandes mudanças em mim. Mas isso se dá com qualquer vida. Imagine um dia especial na sua vida e pense como teria sido seu percurso sem ele. Faça uma pausa, você que está lendo, e pense na grande corrente de ferro, de ouro, de espinhos ou flores que jamais o teria prendido não fosse o encadeamento do primeiro elo em um dia memorável."





quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Não desvie o olhar! Esse garoto é você


“Esta é a minha oração: que o amor de vocês aumente cada vez mais em conhecimento e em toda a percepção,
para discernirem o que é melhor, a fim de serem puros e irrepreensíveis até o dia de Cristo,
cheios do fruto da justiça, fruto que vem por meio de Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.”
Filipenses 1:9-11

Ao olhar para essa imagem tão triste e real, só posso perguntar a mim mesmo:

O que tem atraído o meu olhar?
Onde está o meu amor pelo outro que é parte de mim?
Qual tem sido a minha oração?

De certa forma, o mundo não carece de amor como parece. Na verdade, o mundo está saturado de amor próprio, de egocentrismo, de um amor que ama das maneiras erradas, pelas razões erradas, ou seja, que é apenas chamado de amor sem realmente o ser. É óbvio que estamos todos chafurdados na lama do eu, e mais uma vez eu insisto em bater nessa tecla. Ainda estou aprendendo e, meramente por isso, ouso ir contra o caos que parte de mim mesmo, das minhas dificuldades para olhar ao redor, para estender a mão, para fazer os pedidos certos em oração. Estou cansado de ver o amor a si mesmo, autossuficiente, prepotente, ser pregado como regra para a vida, enquanto esse modo de viver é exatamente o que tem nos levado à morte.

A lei ‘básica’ da vida é amar o outro como a si mesmo. Para isso, nós precisamos ter amor próprio sim, claro, mas o que é um copo cheio d’água se ele não serve para saciar a sede de alguém?! O amor que nos enche, e preenche, deve transbordar a fim de que outros sejam igualmente cheios. Volto a dizer: A lei é o Amor! E não é necessário ser cristão para entender isso. Se há uma coisa que é comum em todas as religiões é que todos carecem de amor! Qual é a fonte dO Amor onde você busca, aí já é uma outra premissa... Sendo assim, você é livre para fazer a sua escolha de se ligar a Deus da maneira que for. Você pode ser cristão evangélico, católico, budista, espírita, hinduísta... Só não seja mais um babaca com relação ao próximo! Só não seja mais um que vive meramente para si mesmo. Pois é por isso que o mundo grita, já percebeu? Ou a música da vaidade tem tocado tão alto em seus ouvidos que você é incapaz de escutar o grito do pobre, do pródigo, do órfão, do quebrado pelas circunstâncias, da família que só quer fugir do extremismo religioso para a liberdade de outro país ou do jovem que deseja encontrar a verdadeira liberdade de si mesmo?

Agora O conhecemos em parte, mas quando Aquele que é completo chegar, tudo o que é incompleto em nós deixará de existir. E se há algo pelo qual todos nós seremos cobrados, certamente é o amor o qual oferecemos. O amor que nos permitimos viver é o que verdadeiramente nos torna semelhantes àquele que é o próprio Amor em Sua essência.

Bom, voltando à criança morta que representa os milhares de famílias refugiadas na Síria... Um olhar lúcido de amor nos revela que ela nos representa também. Nós somos parte do todo, e só podemos compreender isso quando conhecemos o verdadeiro amor. Somos nós que nos perdemos todos os dias. Somos nós que sofremos. Somos nós que morremos em meio ao caos, que sucumbimos à injustiça e nem mesmo nos compadecemos de joelhos diante dAquele que é misericórdia.

A sua oração tem pedido mais do que você precisa? O seu clamor tem sido apenas por seus sonhos e ambições? O seu olhar encara e injustiça e o terror, e simplesmente se vira?

Uma sugestão que dou a mim mesmo e a todos aqueles que, mesmo cambaleantes como eu, desejam trilhar o caminho árduo da Vida e da Verdade todos os dias: Não confunda o amor com aquilo que generalizaram e banalizaram por aí. O Amor genuíno é a porta estreita! A mais estreita, aliás. Bem, se queremos passar por ela, precisamos chorar pela injustiça e sofrimento e orar por justiça e paz; precisamos nos compadecer, ainda que a maior dor esteja do outro lado do mundo. Nossa fé nos permite crer que um pedido de joelhos aqui pode chegar onde quer que seja, não é mesmo? Coloque-se de lado um pouco. Sim, ponha tudo o que você sonha e deseja em segundo plano, e preste atenção no que Deus quer de você. O desejo dEle é que amemos, de coração; é que saibamos e queiramos servir ao invés de sermos servidos; é que possamos nos atentar às necessidades do outro e não de nós mesmos. Por isso, não desvie o olhar! O outro é você. O outro somos nós.
  

“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor.”
1 Coríntios 13.13


No que depende de você, o amor realmente tem sido o maior?

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Escolha o que precisa, Pondere o que deseja

Preciso começar dizendo que esse não é mais um texto para ser apenas lido e apreciado. Essa não é apenas mais uma junção de opiniões formadas por alguém. Isso é um convite à reflexão sobre a urgente necessidade que possuímos de ‘recalcular a rota’ da jornada que temos percorrido. E caso você não esteja aberto a examinar-se a si mesmo, o meu conselho é que pare por aqui, pra que não se irrite com o incomodo de enxergar algum erro si.

                       

Bem, se lhe fizerem uma pergunta do tipo ‘Como você enxerga o mundo?’, qual seria a primeira coisa que viria à sua cabeça? ‘Ele está um caos’, ‘Não sei onde vamos parar’, ‘Em todo o lugar que se olha, é só maldade’... São muitas máximas negativas, pouca perspectiva e inúmeras razões para a desesperança. E embora a nossa esperança não esteja aqui, nesse mundo – e isso é assunto para uma outra reflexão -, uma coisa é contundente na maneira de pensar de qualquer pessoa, seja ela de fé ou não: Nós sabemos o que é certo e o que é errado. Sim, todos nós sabemos! Essa ‘lei moral’ que possuímos é real, e é o que nos mantém na linha, ou, pelo menos, o que costumava nos manter do lado certo.

Se pensarmos no conjunto de escolhas que um indivíduo possui diariamente, quantas são feitas exatamente para dar vazão à própria vida? E quantas são as que sufocam, que fazem daquela pessoa um escravo inconsciente? O mundo está um caos, mas uma fogueira não se ascende sozinha. As fagulhas do caos que conhecemos são a cobiça pelos desejos que nosso ego venera. E toda vez que um indivíduo – esse que é parte do todo – escolhe viver o que deseja por bel prazer, uma faísca de destruição é ascendida. Isso não é atual, mas é, certamente, de uma proporção devastadora em nossos dias. Eu posso citar vários exemplos: Farras, drogas, relacionamentos destruídos por orgulho ou traições, crianças que perdem sua inocência viciadas em pornografia, músicas com letras grotescas e que incentivam a libertinagem, relacionamentos dominados por paixões e desejos sexuais desenfreados – sejam hétero ou homossexuais -, enfim... São inúmeros os exemplos e em todos percebemos o domínio de algo: O desejo.

O nosso desejo nos escraviza. Não podemos confiar em nós mesmos. Jamais! Eu costumo dizer isso e acho que aqui se encaixa perfeitamente. Vidas e mais vidas se destroem todos os dias, simplesmente porque nos permitimos viver o que temos vontade; porque usamos da liberdade que temos para fazer o que bem entendemos, sem nos preocuparmos com o quanto aquilo pode afetar o outro, ou o quanto as consequências dessa escolha podem nos tornar alguém autodestrutivo e, ao mesmo tempo, que destrói o que há em volta. Na maioria das vezes somos idiotas escravizados que pensam ser livres. E somos idiotas de novo quando nos recusamos a enxergar essa verdade.

Nós não podemos culpar o mundo. Nós devemos culpar a nós mesmos, quando não nos responsabilizamos por aquilo que enxergamos de negativo lá fora. Então a pergunta que faço é: Você tem agido conforme os desejos da sua carne o obrigam? E se eu te dissesse que o seu vício em álcool (que você não consegue largar, mas ‘não tem nada a ver’) tem impulsionado o seu filho – ou qualquer outra criança – ao desejo de provar disso?! Ou que tal o uso desenfreado do celular que tem te impedido de enxergar os laços dentro de sua própria casa sendo desfeitos?! E se pensar sobre aquele seu hábito ‘inofensivo’ de se alimentar de pornografia todos os dias, colaborando com tal indústria suja e com a destruição de uma sexualidade saudável na vida de uma criança ou adolescente?! Talvez muitos nunca tenham pensado dessa maneira. Claro que não. Só pensamos em nós. Mais uma vez, nosso prazer que se faz de desejo.

É claro que é muito mais fácil pensar que as pessoas estão vivendo sem amor, deixando o egoísmo dominar suas ações, e que por isso o mundo se destrói, esquecendo-se de si mesmo no meio disso tudo. É muito mais confortável tapar os olhos para as próprias fagulhas que você ascende todos os dias, se isentando da responsabilidade que possui no caos. A gente se pergunta onde o mundo vai parar, mas não é preciso ir muito longe. Basta olharmos para nós mesmos e nos perguntar: Onde eu irei parar se continuar consumindo o prazer em grandes goles, e fortalecendo o meu ego? Ninguém quer se tornar um monstro. Mas ninguém ama o suficiente para dominá-lo e repreendê-lo quando o mesmo está faminto.

Os babacas, os arrogantes, os gananciosos... Eles nos dizem todos os dias que podemos ser quem queremos, que podemos – e devemos – fazer o que nos dá vontade, que a melhor forma de viver é sem arrependimentos. Mas eles não dizem sobre as consequências disso. Eles não falam sobre o quanto você se corromperá enquanto os beneficia; não falam o quanto você se destruirá e caminhará para o vale da morte levando outros consigo.

É por isso que eu o convido a ‘recalcular a rota’. Você pode estar se destruindo sem ter a mínima noção disso; pode estar sendo um colaborador ‘inocente’ de um caos desenfreado e sem alívio. Então eu o convido à escolha que te levará à paz, ao arrependimento que gerará a verdadeira mudança, que o apontará para a vida plena! Eu o convido a resistir e lutar contra si mesmo, contra os seus impulsos, contra os seus desejos. Você não precisa ser mais um ignorante que se rende às tentações simplesmente porque está na moda fazê-lo.

ESCOLHA sempre o que PRECISA para viver. PONDERE sempre o que DESEJA, para não morrer. E que você encontre a verdadeira liberdade que vaga por aí em busca de moradia.

Para concluir essa reflexão, deixo um texto do livro de Gálatas. Capítulo 5, versos 13 a 25. (A Mensagem):

Não há dúvida que Deus chamou vocês para uma vida de liberdade. Mas não usem essa liberdade como desculpa para fazer o que bem entendem, pois, assim, acabarão destruindo-a. Em vez disso, usem a liberdade para servir o próximo com amor. É assim que vocês serão cada vez mais livres, pois o ensino da Palavra de Deus se resume numa única frase: ‘Ame o próximo como a você mesmo’. Isso é que é liberdade. Se vocês vivem como cão e gato, vão acabar se destruindo. Querem perder a preciosa liberdade?

Aqui vai o meu conselho: vivam nesta liberdade, motivados pelo Espírito de Deus; só assim vencerão seus impulsos egoístas. Pois há em nós uma raiz de egoísmo que guerreia contra a liberdade do Espírito! Esta liberdade é incompatível com o egoísmo. São dois modos de vida opostos: não dá para viver com os dois. Por que não escolhem o caminho do Espírito? Só por ele poderão fugir dos impulsos inconstantes de uma vida dominada pela lei.

Todos conhecem o tipo de vida de uma pessoa que quer fazer o que bem entende: sexo barato e frequente, mas sem nenhum amor; vida emocional e mental detonada; busca frenética por felicidade, sem satisfação; deuses que não passam de peças decorativas; religião de espetáculo; solidão paranoica; competição selvagem; consumismo insaciável; temperamento descontrolado; incapacidade de amar e ser amado; lares e vidas divididos; coração egoísta e insatisfação constante; costume de desprezar o próximo, vendo todos como rivais; vícios incontroláveis; tristes paródias de vida em comunidade. E, se eu fosse continuar, a lista seria enorme.

Essa não é a primeira vez que venho advertir vocês: se usarem a liberdade desse modo, não herdarão o Reino de Deus.

Mas vamos falar da vida com Deus. O que acontece quando vivemos no caminho de Deus? Ele faz surgir dons em nós, como frutas que nascem num pomar: afeição pelos outros, uma vida cheia de exuberância, serenidade, disposição de comemorar a vida, um senso de compaixão no íntimo e a convicção de que há algo de sagrado em toda a criação e nas pessoas. Nós nos entregamos de coração a compromissos que importam, sem precisar forçar a barra, e nos tornamos capazes de organizar e direcionar sabiamente nossas habilidades.

Já que a vida do Espírito é o tipo de vida que escolhemos, convém lembrar que isso não é apenas uma ideia um sentimento no coração. Suas implicações devem ser realidade em cada área da nossa vida.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

A canção que nos pertence

Embora eu conte a história de uma amizade apenas, o texto a seguir é destinado a todos os meus amigos, em especial aos que se tornaram tais em nossa adolescência.

Nessa vida corriqueira com a qual nos acostumamos, há dias em que tudo parece desacelerar, sem mais nem menos, e um ar de nostalgia atinge em cheio o nosso peito. Respiramos com o ar pesado. Cada suspiro é uma lembrança diferente. E lembrar-se do que sente falta nunca é fácil.

Hoje foi um desses dias. Acordei no comum, mas isso mudou. Sem nenhum motivo especial, encontrei arquivos de vídeos antigos na internet, a partir de um ‘post de recordação’ da rede social, e passei da manhã à noite respirando memórias. Bom, talvez o meu subconsciente quisesse me lembrar de alguma coisa, um sentimento, uma escolha, um momento específico. Mas isso não passou de uma vaga hipótese durante todo o dia... Até que agora a pouco, a rede social (novamente) me lembrou de algo. Hoje é aniversário de um amigo. Um grande amigo do qual eu sinto bastante falta.

Thiago é um dos irmãos que a vida me deu a oportunidade de escolher. Esse amigo com quem já briguei, e briguei feio; com quem já chorei, sem que houvesse qualquer vergonha; com quem já disputei uma paixão na adolescência; com quem compartilhei (e fui) motivos pra rir, pra se chatear, pra explodir de raiva. Um amigo que fazia parte do melhor grupo de amigos de todos. Um amigo que virou personagem de livro e de série, junto a mim e aos outros. Thiago era o cara, embora eu jamais admitisse isso. O cara que era inspiração (não apenas pra mim) para sonhar, para ser um gentleman com as garotas (e galanteador haha), para refletir sobre o que é importante na vida. Esse cara que nunca teve medo de expor suas convicções, mesmo que se divergissem da maioria.


Sua amizade realmente é muito valiosa, e o mais inspirador nela é a forma como começou. Não é qualquer pessoa que você conhece e, de forma tão clara, Deus fala que essa amizade é um presente dEle... Como no livro de Samuel, capítulo 18, versículos de 1 a 5, onde Jônatas e Davi se tornam amigos. Bom, eu tinha 14 anos e ele 11 (mas agia e pensava como se tivesse mais). Nós nos conhecíamos há apenas algumas semanas e estávamos em um retiro da Igreja. Em um determinado momento, em que foi ministrada uma palavra específica a todo grupo que ali se encontrava, Deus me deixou bem claro que eu perderia algumas amizades pela escolha que eu estava fazendo em minha vida. E aquilo doeu. Pra caramba. Primeiro porque ninguém gosta de desfazer laços que, de alguma maneira, fazem bem, e segundo porque eu estava me tornando um adolescente, e com isso começando a desenvolver a técnica infeliz do acreditar que tudo durará para sempre. Enfim... Naquele mesmo momento, em que a verdade que eu soube me fez me sentir mal, Deus me trouxe outra verdade, da qual eu jamais me esqueceria: ‘Filho, não se preocupe, porque eu tenho o melhor para você. Você pode perder amizades das quais você gosta muito, mas eu tenho novos amigos para você, amigos que crescerão com você, e te ajudarão a se tornar quem Eu quero que você seja.’ E naquele momento, ao olhar para o meu lado direito, eu, que só estava naquela Igreja há algumas poucas semanas, pude ter a certeza de que um dia eu olharia para trás e saberia que pelo menos um amigo verdadeiro eu havia conhecido ali. Geralmente, um amigo encontra o outro, e muitas pessoas pensam ser destino, mas no nosso caso Deus presenteou nossa vida com um irmão de alma.

Caramba, eu não pretendia falar tanto! Mas histórias carregadas de verdade devem ser contadas. É por isso que escrevi um livro, enfim... Talvez só o post já seja um presente de aniversário pra esse cara que, eu mal posso acreditar, já está fazendo 23. E continua cantando a mesma canção, da mudança pela mudança, pelo prazer de viver, pelos dramas e comédias e aventuras e desventuras que só a escolha da mudança pode realizar. De qualquer forma, eu preciso concluir esse texto com uma reflexão que esse dia, e essas memórias, me trouxeram. 
  •      Então, cara, às vezes eu fico me perguntando o que foi que 'deu errado' no meio da história; qual o motivo de hoje ser tudo tão diferente do que era antes. Sabe, não só de como costumávamos ser, mas da forma como acreditávamos que tudo aquilo duraria. A gente vai vivendo e percebendo que grande parte das convicções que tínhamos na fase adolescente fica para trás com ela, ou amadurece em nós caso permitimos. E é impressionante o fato de que as coisas realmente passam, sempre mudam e simplesmente deixam de ser, sem que a gente nem mesmo perceba esse processo. Então, mais uma vez, fica a questão: Quando foi que essa canção começou? A canção da mudança. A canção que você sempre venerou; que eu sempre repudiei. Quando foi que nossos olhos se fecharam e não vimos mais o tempo passar, os amigos se afastarem e as coisas mudarem? Você, meu caro amigo, ensinou muita gente a dançar ao som da canção, mas talvez não tenha se dado conta e percebido o momento certo de parar a música para reaver os detalhes que haviam desaparecido. São muitos questionamentos que as lembranças trazem, mas elas também deixam uma certeza: Por mais que tenhamos nascido para cantar, de maneiras diferentes, a mesma canção; ainda que algumas notas sejam mais difíceis de serem alcançadas do que outras; mesmo que as letras se transformem com o tempo e a gente se perca em uma ou outra performance importante; eu sei irmão, nós sabemos, que ainda estamos juntos. E apesar da distancia, e das vidas tão diferentes, eu amo você, meu irmão!
"Você vai olhar para as suas fotos e perceber o quão vulnerável é. O tempo não é de ninguém, mas os relacionamentos que você constrói, sim."


terça-feira, 7 de julho de 2015

Vasos de Barro

Somos vasos.
Vasos de barro.
Frágeis.
Aparentes.
Enfeitados.
Rejeitados.
Rachados.


O oleiro nos fez, mas talvez não nos tenha.
Somos remendados, mas não restaurados.
Queremos o novo, mas não o renovo.
Queremos ser cheios, mas não derramados.

Não permitimos.
Não cedemos.
Não nos entregamos.
Não nos rendemos.

Mas o barro só tem a vida se recebe o sopro.
A beleza só aparece ao tirar os enfeites.
Rachaduras não somem com meros esforços.
Aceitação não cura grandes vazios.

Precisamos que o oleiro nos tenha.
Precisamos voltar ao oleiro.
E permitir que nos desfaça.
E ceder à sua graça.
Entregar às mãos que nos quebrarão.
Desfazer para refazer.
Chorar ao derramar.
Sorrir ao encher.

Pois esse é o processo.
Essa é a essência.
Vaso que não foi quebrado,
e refeito em cacos de dor,
não pode ser cheio do amor.



terça-feira, 23 de junho de 2015

Escolher, em consciência, a essência

"Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa.” Rubem Alves
É tão bom passar tempo vago na internet e sentir que, nesse tempo, você conheceu algo útil, entendeu algo importante e teve seu espírito edificado...

Às vezes, nos esquecemos da nossa (linda) capacidade de escolher e fazê-lo bem. Nos esquecemos do controle que temos sobre as coisas que ingerimos, com as quais alimentamos nossa mente, emoções e esperança. Vivemos tão automaticamente hoje em dia, que perdemos a essência pelo caminho, desaprendemos a viver bem e nos frustramos ao deparar com nosso eu perdido, cansado e conformado com qualquer coisa.

Por isso o lembrete a seguir é tão válido e necessário: Sabe, você não precisa aceitar tudo que te oferecem - isso vale tanto na vida online quanto na real. Você não precisa achar graça das bobagens que todo mundo acha, você não precisa ter uma opinião pra tudo e se impor numa arrogância idiota só pra se sentir parte de um grupo social... Tudo bem você ser apenas você, e pensar em você, e querer dar espaço para o que é bom a fim de que se torne melhor. Tudo bem você ser incompreendido por muitos, simplesmente porque não gosta do que todo mundo gosta ou porque não quer o que todo mundo deseja ou possui.

E você pode se perguntar o que 'ser você mesmo' tem a ver com 'se preencher de coisas boas'. Pois bem... Identidade é algo exclusivo, único, valioso, e que infelizmente tem perdido sua importância nessa era em que o importante mesmo é ser banal. A identidade é algo que se constrói através de experiências, relacionamentos, questionamentos e um tanto de outras coisas. E tudo isso, tudo o que é necessário pra que alguém possua a sua própria identidade, tem a ver com escolhas. Portanto, se você permite a si mesmo ir atrás dos outros sem sequer saber para onde estão indo, ou se tem preguiça de pensar, buscar conhecimento, coisas que te edificarão e elevarão sua mente e razão, então você estará abrindo mão do seu poder de escolha (o único poder que possuímos) para escolher de maneira inconsciente. Você estará decidindo ser apenas uma cópia, mais uma alma solitária que faz o que todos fazem, que quer o que todos querem, que gosta do que todos gostam, que se esquece a cada dia de quem poderia se tornar, caso filtrasse as informações que recebesse e soubesse reter apenas o que é bom, descartando o descartável e não se alimentando dele.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Uma verdade sobre a verdade


O papel de quem crê na verdade não é de agir como se ela fosse sua propriedade exclusiva. A propósito, quando alguém conhece a verdade e a aceita, passa a pertencer a ela, como todos os outros que o mesmo fazem, e não o contrário. Dito isso, não, aquele que pertence à verdade não deve tentar impor ou obrigar outros a conhecê-la, a pertencer ao que ele já conhece. Esse pode desejar para aqueles a quem ama, que também a encontrem; ele pode transmitir a beleza e benefício da liberdade que há em viver a verdade em seus atos; ele pode até oferecê-la, afinal, tudo quanto provamos de bom, queremos que outros também provem; mas não se pode, jamais, enfiá-la goela de alguém abaixo. Devo lembrar que aquele que é a verdade, e também o caminho e a vida para os que creem, pelo qual são libertos aqueles que a conhecem, nunca fez mais do que apresentá-la, gentilmente, amorosamente, pacientemente, com seus gestos e suas palavras. Nem todos aceitaram-na. Nem todos deram atenção. Nem todos gostaram da ideia. Inclusive, alguns até conspiraram para que a verdade fosse vista como uma mentira. Assim o foi e assim tem sido. E diante dos fatos e exemplos vividos humildemente pela própria verdade, aqueles que são sua comunidade, que já o encontraram, que buscam por conhecê-lo cada vez mais íntimo, não devem agir como se tudo ao redor tivesse que ser dominado por essa verdade. Não é e, sinto informar, não será. É justamente porque a verdade existe, que sabemos a respeito da liberdade que todos têm até mesmo para rejeitá-la. Livre-arbítrio, esse que dá o direito de escolha, as quais geram consequências que terão de ser encaradas um dia, seja no juízo, seja nos altos e baixos da vida, seja enxergando que o caminho pelo qual está indo não chegará em um bom lugar. As pessoas são livres para pensar, livres para sentir, livres para escolher. E aquele que conhece a verdade não pode, de maneira alguma, anular o seu conhecimento agindo como se esses merecessem menos do seu amor, menos do amor daquele que o é. A verdade veio para todos. O amor veio para todos. Sem exceções. Sem distinções. Ao que sabemos, pelo agora. O depois daqui não pertence a nenhum de nós. Então, aos conhecedores, libertos, 'do caminho certo', eis aqui um conselho: AME! Transmita a verdade amando. O restante não é com você, e sim com aquele a quem você crê que pertence.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Existe uma história depois da capa

“Quando eu descobri o quão falho eu sou, percebi que somos todos apenas livros imperfeitos em capas atraentes.”

É realmente fácil ouvir histórias das quais não fazemos parte e permanecermos indiferentes. É muito confortável julgar uma pessoa por uma queda ou tropeço, ou por uma longa cadeia de erros, quando não somos nós em seu lugar. Mas há um lado oposto a esse, uma forma de perceber a dor do outro e desejar dividi-la.

Quem sabe se fizéssemos uma lista de características pessoais, boas ou ruins, visíveis ou imperceptíveis?! Certamente nos surpreenderíamos ao compreender que nossa maior falha está em nos limitarmos, em nos esquecer da característica mais valiosa que possuímos: nossa HUMANIDADE. Muitas vezes vemos um filme, um livro ou um CD, e rejeitamo-los pelo simples fato de não nos agradarmos da capa. E assim fazemos com as pessoas, inescrupulosamente, inclusive a nós mesmos. Julgamos o outro, porque para nós uma atitude vale mais do que toda a história, uma falha diz mais respeito à vida de alguém do que as virtudes que a trouxeram até aqui. Infelizmente nos permitimos valer apenas a primeira chance de nos contentarmos com a capa.

Pode parecer complicado examinar a si mesmo. Pode parecer difícil identificar essa falha que tem depreciado a sociedade dentro de si. Mas eu posso dizer o que é difícil pra valer. Por uma experiência pessoal, eu posso dizer como é estar do lado que dói, que machuca só de olhar alguém pagar por um erro, mesmo enxergando em seu olhar e sorriso que ela já aprendeu com a falta cometida.

Não é fácil conhecer alguém, ver as melhores intenções em seus olhos, e assisti-la ser vítima da consequência exacerbada que vem da 'justiça' humana. Não é fácil ver uma realidade de 'consequência aliada à justiça' tão de perto, sabendo que o erro foi apenas um envolvimento equivocado. A justiça do homem conta apenas os números, mas não reconhece as vidas... Bom, nós também fazemos isso, não?! Um excelente histórico não vale nada se aquela vida cometer um pequeno crime. E você só consegue enxergar esse fato com clareza de duas maneiras: Ou você realmente faz parte da vida dessa pessoa, ou você possui um nível de compaixão incomum! E é nesse nível que precisamos chegar urgentemente.

Mergulhemos mais a fundo em compaixão e poderemos ver além do que mostra a superfície daquele alguém sobre quem comentamos, de quem exigimos algo, quem julgamos merecer as situações pelas quais tem passado. Larguemos as pedras. Baixemos as vozes. Interrompamos os rumores. É verdade que não existem pessoas perfeitas, mas ninguém é feito de imperfeição! Nenhuma vida pode se resumir a um erro, um ato falho, um equívoco impensado. Por trás de cada capa, e cada ato, existe uma história. Por trás de cada escolha, existe uma infinidade de experiências boas e ruins. E por trás de pessoas imperfeitas, boas e perversas, esnobes e perdidas, existe um Criador perfeito. O motivo é que, por trás de toda essa história que vivemos, existe uma Cruz onde O Amor perfeito foi pregado. Tudo o que precisamos fazer é nos entregar a essa Graça concedida. É permitirmos ser justificados pelo sangue que escorreu do corpo da Justiça, a única capaz de julgar toda a história de uma vida, que se encontra muito acima da nossa, que não tarda, que não falha.