O
amor começou. Desconhecido. Bonito. Como o primeiro passo dado. Tornou-os
conhecidos e amigos. Melhores amigos. Marcou encontros e permitiu a esperança
pairar na floresta. Todas as noites eram especiais, e nenhum amanhecer era
comum. O lobo uivava chamando o brilho da noite que ele amava. A lua surgia
banhando a sua solidão em prata. Os dois trocavam olhares, harmonizavam
sentimentos generosos e sentiam-se próximos através do mar. Era onde o lobo
aguardava, e de onde a lua surgia todas as noites. Quanto mais brilhante, mais
alto o uivo. Quanto maior, mais crescia a esperança de tocá-la um dia.
Havia noites em que a lua não aparecia, e
nesses momentos escuros a dúvida sobre o amor surgia. Eram horas de solidão,
onde só o amor doído se sentia. Mas a novidade que ele nunca experimentou
estava ali. Tudo o que o fazia cantar por longas noites, tudo o que o fazia
esperar por longos dias. Era a primeira vez que se sentia tão vivo daquela
forma, que uivava tão bravamente para mostrar o melhor que podia, e que
acreditava em algo impossível como se fosse apenas questão permissível da
natureza. Por isso a dúvida não o impediria de querer ser o melhor, não para os
outros, mas para aquela que o olhava de forma diferente, que o banhava de uma
prata paixão.
Ouviu um dia boatos na floresta. Outro lobo
havia conquistado o brilho da noite, do outro lado do oceano. Não podia
acreditar, também não podia duvidar. Todos gostariam de ser parte da intensa
luz que aquela única lua refletia. Sim, ela era única, mas parece ter se
tornado igual. Não igual a outras luas inexistentes, mas igual a outros astros.
Mesmo assim ele insistiu, e além de perceber a verdade dos fatos no seu brilho
certa noite, ele perdoou. Foi graças a ele que naquela noite de um seco outono
choveu. A lua chorou, e se deu conta de que nenhum outro lobo, ou qualquer
outro animal, poderia fazê-la brilhar de forma tão autêntica e intensa.
Diante do perdão e encanto que pode haver
nesse tipo de atitude, a Lua fez uma promessa. Nada ou ninguém poderia
motivá-la a trazer mais vida e brilho a todas as noites do mundo. Ela contaria
as horas de onde estava para que fosse noite onde ele estava. Eles se
encontrariam para sempre e, caso a natureza permitisse, um dia o lobo poderia
habitar seu espaço, e fazer parte da sua luz de vez.
Por
longo tempo permaneceram assim. Foram cúmplices do que na noite ocorria. Ela
sempre ouvia sobre o que no dia acontecia. Amavam-se, contemplavam-se à
distância, perseverantes de um amor imenso como o mar que os separava. Então um
dia o inverno tomou conta de tudo. O lobo se cansou por algum motivo, e parou
de dar o seu melhor a quem merecia quando escureceu. A lua deixou a sua
grandeza e brilho de lado, ofuscou-se. Até hoje não entendem a razão. Talvez a
natureza quisesse assim. Mas um pouco daquele motivo de esperança ainda existia
dentro dele, embora tentasse reconquistá-la, por anos a fio, em vão. Queria ser
o motivo do melhor brilho que pudesse da única que amara até então. Lógica, ou
ilogicamente, não obtivera sucesso...
Em determinado nível de solidão o lobo percebeu
que talvez ela houvesse encontrado outro melhor do que ele, ou simplesmente
esquecido de sua existência. Não estava certo sobre isso, mas o que ele podia
afirmar no seu canto de lamento pelas noites, a partir dessas hipóteses, é que
o brilho dela havia mudado junto aos seus valores e motivos para iluminar as
noites. Ele se desprendeu. Percebeu que havia tantos outros seres dispostos a
conhecer o seu melhor. Sempre se lembraria dela, mas a lua não seria mais o seu
motivo de uivar e bradar. O lobo e a lua se conheceriam melhor que qualquer
astro ou ser vivo, para sempre. Por isso ele sabia que ela buscava nova cores e
motivos para refletir e brilhar, por um tempo desconhecido senão pela natureza.
E quanto a tudo o que sentiram um pelo outro, ninguém naquela floresta, ou em qualquer outro
lugar, poderia ser capaz de dizer que não foi verdadeiro... Pois a teoria de uma antiga lenda sempre sustentará a veracidade da história.
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